A PESSOA COM SURDOCEGUEIRA
Conforme
Lagati (1995, p. 306), a Surdocegueira
é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela
cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as
dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma
diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não
aditivo.
É
necessário incentivar e ensinar a pessoa com surdocegueira a de como usar sua
visão e audição residuais, assim como outros sentidos remanescentes,
provendo-as de informações sensoriais necessárias que suscitem sua curiosidade.
A aprendizagem incidental ocorre com menor freqüência no caso da pessoa com
surdocegueira. As perdas parciais ou totais dos sentidos de distância, ou seja,
audição e visão fazem com que a informação do meio lhe venha entrecortada e
algumas vezes sem nexo, o que faz com que a pessoa se retraia. A necessidade de
uma pessoa para mediar e trazer estas informações de maneira integral e
coerente se torna imprescindível.
Sem
os sistemas adequados de comunicação, o avanço nos estágios de desenvolvimento da
linguagem pode levar mais tempo para ocorrer. Além disso, o progresso é mais
lento, mas não é necessariamente uma evidência de que a pessoa com
surdocegueira tem um baixo potencial, mas sim lhe faltam os recursos de
comunicação para responder significativamente ao meio ambiente. O ambiente deve
ser planejado e organizado adequadamente para inserção da pessoa com surdocegueira,
favorecendo a interação com pessoas e objetos. Isso a auxilia a realizar antecipações,
obter pistas e escolher com quem quer estar e quais as atividades que deseja
fazer.
Durante
o processo de comunicação, o professor ou outro interlocutor tem a função de:
antecipar o que vai acontecer ou o local em que vai acontecer a atividade; estimular
a pessoa para se comunicar e explorar o ambiente; confirmar se ela está
interpretando as informações e a todo o momento comunicar o que ocorre no
ambiente.
A
pessoa com surdocegueira apresenta uma habilidade reduzida para antecipar
eventos futuros por pistas do ambiente. Por exemplo, a mãe entrando no quarto
não significa de imediato o conforto, a comida ou o carinho.
A
redução na quantidade de estimulação recebida do mundo externo pode resultar em
hábitos substitutivos e inapropriados de auto-estimulação pela pessoa com
surdocegueira. Como, por exemplo: movimentação contínua, balanceio, mexer os
dedos na frente dos olhos, olhar fixo para fontes de luz ou a repetição
ritualística de atividades específicas.
Se
uma comunicação efetiva não for estabelecida na infância, a pessoa pode ao
crescer, tornar-se um jovem ou adulto com comportamentos inadequados para se
comunicar. Pode utilizar, assim, às vezes de força física para poder dizer que
não quer algo como, por exemplo: empurrar a pessoa ou retirar da mão de uma
pessoa algo que deseja.
A PESSOA
COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
São
consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que "têm mais de uma
deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes
grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam,
mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento
social" (MEC/SEESP, 2002).
As
características específicas apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla
lançam desafios à escola e aos profissionais que com elas trabalham no que diz
respeito à elaboração de situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para
que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão.
Esses alunos constituem um grupo com características específicas e peculiares
e, consequentemente, com necessidades únicas. Por isso, faz-se necessário dar
atenção a dois aspectos importantes: a comunicação e o posicionamento.
COMUNICAÇÃO
Todas
as interações de comunicação e atividades de aprendizagem devem respeitar a
individualidade e a dignidade de cada aluno com deficiência múltipla. Isto se
refere a pessoas que possuem como característica a necessidade de ter alguém
que possa mediar seu contato com o meio. Assim, ocorrerá o estabelecimento de
códigos comunicativos entre o deficiente múltiplo e o receptor. Esse mediador
terá a responsabilidade de ampliar o conhecimento do mundo ao redor dessa
pessoa, visando a lhe proporcionar autonomia e independência.
Todas
as pessoas se comunicam, ainda que em diferentes níveis de simbolização e com formas
de comunicação diversas; assim, considera-se que qualquer comportamento poderá ser
uma tentativa de comunicação. Dessa maneira, é preciso estar atento ao contexto
no qual os comportamentos, as manifestações ocorrem e sua frequência, para
assim compreender melhor o que o aluno tem a intenção de comunicar e responder.
POSICIONAMENTO
É indispensável uma
boa adequação postural. Trata-se de colocar o aluno sentado na cadeira de rodas
ou em uma cadeira comum ou, ainda, deitado de maneira confortável em sala de
aula para que possa fazer uso de gestos ou movimentos com os quais tenham a
intenção de comunicar-se e desfrutar das atividades propostas. Não se pode
esquecer, por exemplo, que muitas vezes o campo visual do aluno ou mesmo sua
acuidade visual poderão influenciar os movimentos posturais de sua cabeça, pois
irá tentar buscar o melhor ângulo de visão, aproveitando seu resíduo visual,
inclinando-a ou levantando-a. Esses movimentos poderão sugerir que a pessoas
não está na melhor posição. Isso, porém, é um engano, pois na verdade ela pode
estar adequando sua postura.
NECESSIDADES
ESPECÍFICAS DAS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA E COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
O
corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele, o
homem descobre o mundo e a si mesmo. Portanto, favorecer o desenvolvimento do
esquema corporal da pessoa com surdocegueira ou com deficiência múltipla é de
extrema importância.
Para
que a pessoa possa se auto perceber e perceber o mundo exterior, devemos buscar
a sua verticalidade, o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização de
seus movimentos; a autonomia em deslocamentos e movimentos; o aperfeiçoamento
das coordenações viso motora, motora global e fina; e o desenvolvimento da
força muscular.
As
pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, que não apresentam graves
problemas motores, precisam aprender a usar as duas mãos. Isso para servir como
tentativa de minorar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do
uso de ambas para o desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.
Devido
às dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nessas
pessoas algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das
informações recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no
processo de simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de
sentido para as mesmas.
Prioritariamente
deve-se, portanto, disponibilizar recursos para favorecer a aquisição da
linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros
registros, como o gestual, por exemplo. Mesmo quando a deficiência predominante
não é na área intelectual, todo trabalho com o aluno com deficiência múltipla e
com surdocegueira implica em constante interação com o meio ambiente. Este
processo interacional é prejudicado quando as informações sensoriais e a
organização do esquema corporal são deficitárias. Prever a estimulação e a
organização desses meios de interação com o mundo deve fazer parte do Plano de
AEE.
Referências:
BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R.
S. H.; MAIA, Shirley R. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na
Perspectiva da Inclusão Escolar - Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência
Múltipla (2010). Capítulo 4 - A escola comum e o aluno com surdocegueira.
Capítulo 5 - Deslocamento em trajetos. Capítulo 6 - Pessoa com surdocegueira